A impulsividade, segundo Dalgalarrondo é “um curto circuito do ato voluntário, da fase de intensão à execução”. É quando se age na magnitude de como se deseja sem filtros, ou porque estes filtros são instâncias psíquicas frágeis e incapazes de conter a vontade aguda. Dessa maneira todos temos um pouquinho de impulsividade em nossas vidas. Quem nunca agiu sem pensar? Quem nunca comeu um pouco a mais por “gula”, nunca roubou um beijo proibido ou acabou por transar sem camisinha e se roeu de remorso e preocupação no dia seguinte.
Mas há quem fuja dos níveis acetáveis e sofram com a chamada impulsividade patológica: são tomados na maioria das circunstâncias pelo ato impensado, instantâneo, explosivo e incontrolável. Tudo isso leva a grandes níveis de ansiedade, polarização dos sentimentos e desconsideração das consequências sobre os outros. Exemplificando: é aquela mulher que compra compulsivamente no cartão de crédito, desrespeitando o orçamento familiar e complica a vida do marido, que vai acabar arcando com as contas e se endividando. É aquele indivíduo que quer aprender a surfar e não suporta a frustração de não conseguir ter realizado manobras incríveis após a segunda aula, desiste, joga a prancha fora e vai encher a cara na balada e dirigir perigosamente colocando a vida dele e dos outros em risco. É aquela mulher que, sempre com medo de perder a forma, tem vontade de comer uma torta de chocolate e impulsivamente come não apenas um pedaço, mas a torta inteira e depois provoca o vômito para se aliviar da culpa. É o indivíduo que por uma fechada no trânsito vai a embates corporais com outros motoristas. É o adolescente que desafia e desrespeita as regras escolares sem se importar com a decepção de seus pais. É característico a baixa tolerância a frustrações que levam ao abuso de substâncias, má conduta e explosões de violência.
Muitos são os transtornos psiquiátricos que tem como característica essencial a impulsividade patológica, e é interessante notar que é marcante a disfunção destas pessoas em conviver em sociedade pois para elas é muito difícil respeitar regras comuns e até mesmo a simples convivência em relacionamentos a dois. A empatia ( colocar-se no lugar do outro), é praticamente nula pois estes indivíduos são guiados por suas necessidades instintivas que simplesmente ignoram a realidade da maioria, e “pervertem” as situações a seu próprio favor. Transtornos de personalidade são fortemente influenciados pela impulsividade: psicopatas mentem a seu favor, enganam, burlam, manipulam chegando até a matar para satisfazer suas vontades instintivas. Mulheres com transtorno borderline se automutilam na tentativa impulsiva de aliviar a angústia através da dor. Estas, tem seus relacionamentos caracterizados por forte instabilidade emocional, crises infindáveis, neurotização de situações que levam até mesmo a brigas corporais com os parceiros. As crises de hipersexualidade nos bipolares são outro exemplo: momentos em que o indivíduo quer sexo de qualquer jeito, sem respeitar regras morais ( a esposa do amigo, por exemplo), e manifesta indiscrições de cunho erótico e despudorado. Daí por diante temos uma infinidade como a cleptomania ( mania de roubo), piromania ( mania de incendiar lugares), jogo compulsivo, compras compulsivas, tricotilomania ( mania de arrancar cabelos e comer), dermatotilexomania ( mania de se cutucar e ferir), transtorno compulsivo alimentar ( os famosos assaltantes de geladeira que comem tudo que aparecer. Uma “ataque” pode chegar a 16.000 kcal!), transtorno dismórfico corporal, abuso de substâncias ( álcool e drogas), TDAH ( transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), transtorno explosivo intermitente, transtorno de conduta, transtorno opositor desafiador, transtorno de personalidade anti-social, histriônico e narcisista, entre outros.
É importante lembrar que no “curto circuito do ato voluntário” o indivíduo deixa de ponderar, avaliar e medir suas ações, expressando um egoísmo e irracionalidade que causa mágoa e sofrimento em seus convívios. Caminho ingrato o dessas pessoas que dividem a vida de alguma maneira com estes indivíduos. Se você tem um amigo(a), parceiro(a) ou parente com estas características, busque ajuda especializada para ele ( psiquiatra, terapia individual ou de casal ou família), e se ele(a) negar….busque vc ajuda para saber como lidar. Não é fácil……..
Por. Dr. João Borzino
www.drborzino.com.br