Tenho estudado e procurado compreender mais profundamente a prática psiquiátrica, pois tenho percebido cada vez mais dentro do consultório pessoas, em sua maioria homens, que chegam com uma queixa sexual e quando vamos avaliar, percebemos que há um problema adjacente como o TOC – transtorno obsessivo compulsivo.
De acordo com a Associação Americana de Psiquiátrica, o TOC é classificado com um transtorno de ansiedade similar as fobias (medos). Entre os sintomas mais comuns, podemos destacar as alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio ou “ruim”, obsessões) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão).
Quando investigamos um paciente que tem o TOC associado a sua queixa sobre o relacionamento sexual, geralmente identificamos serem indivíduos que foram submetidos a regras morais ou educacionais muito rígidas e, por isso, acabaram desenvolvendo normas também extremamente rigorosas em relação ao sexo.
Estas pessoas normalmente sofrem muito, porque tem um medo exacerbado de falharem na hora “H”, o que costuma resultar num efeito contrário, ou seja, o individuo fica muito mais suscetível à falha ou a impotência, exatamente pelo medo de “não funcionar”.
Existe também o outro lado do problema. Quer dizer, quando a pessoa sofre por ter pensamentos considerados impróprios em relação ao sexo, como, por exemplo, imaginar-se numa relação homossexual ou com algum familiar.
Nestes casos, o paciente fica obcecado por afastar estes pensamentos e quanto mais se esforça e se preocupa em fazer isto, mais os pensamentos invadem a sua mente, levando-o em alguns casos a estabelecer rituais de “purificação” ou até mesmo a evitar ter uma relação mais intima com quem quer que seja.
Além do sofrimento emocional, a pessoa pode ter sérios problemas interpessoais, ocupacionais, familiares e financeiros, pois acaba guardando para si toda a ansiedade e angustia que o transtorno lhe causa, nem sempre procurando ajuda para resolvê-lo.
Segundo a ASTOC (Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo), estima-se que entre 2 e 3 milhões de brasileiros sejam portadores de TOC e que embora tenham suas vidas comprometidas pela doença, nunca foram diagnosticados e tampouco tratados, por desconhecerem o fato de que seus sintomas constituem-se numa doença.
A terapia comportamental, associada ou não ao tratamento medicamentoso, ajuda o individuo a entrar gradualmente em contato com as situações temidas e evitadas, fazendo com que o paciente aprenda a lidar com as mesmas e a não se deixar dominar ansiedade.
João Luis Borzino é terapeuta sexual de casais e sexólogo com mais de 12 anos de atuação profissional.