Infelizmente os estudos sobre a função erétil engatinham, e são muito pouco valorizados dentro da área de saúde. Evoluímos muito nas últimas décadas com a utilização do doppler peniano. Este contribuiu para a fundamentação da teoria vêno-oclusiva da ereção, e daí por diante apareceram escalas para correlacionar graus de disfunção erétil com fatores de risco e patologias orgânicas que prejudicassem a ereção. Difícil mesmo é lidar com a variante psíquica do “medo da falha”, ou “medo do mau desempenho” que está presente em todas as formas de disfunção erétil, sendo causa primária ou comórbido ( que acontece junto) a um problema físico.
Algumas centenas de trabalhos científicos validam estatisticamente a relação entre tabagismo, obstrução coronariana e diabetes ( por exemplo), com diversos graus de disfunção erétil. Outros tentam aliar a influência da frustração com o mau desempenho, mas ainda não existe exame nem escala com acurácia suficiente para se medir o medo de falhar!
Sou médico sexologista e terapeuta sexual individual e de casal há 15 anos, além de experiência psiquiátrica, e já cansei de ver pacientes com ereções noturnas normais ou masturbação com rigidez normal, apresentarem doppler peniano com insuficiência vêno-olcusiva ( escape venoso), ou fluxo arterial insuficiente. Como assim?! Eles tinham boas ereções e ao exame eram doentes?? Indignado fui fazer um curso em ultrassonografia com doppler de pênis e entendi que quem faz o exame não entende direito o que se passa com o paciente. Não que o colega não domine a técnica, mas o procedimento do exame é assustador e isso altera qualquer resultado. Qual homem, na face deste planeta, teria a naturalidade e tranquilidade de chegar diante de um médico, em uma sala estranha e gelada de ultrassom, colocar seu pênis para fora para ser manipulado por “mãos estranhas” e ainda por cima suportar a aflição de levar uma injeção no membro para que ali se introduzam substâncias vasoativas. Sem contar com a angústia pelo resultado! O viés da adrenalina do momento é inevitável; quanto mais nervoso, mais adrenalina, menos fluxo nas artérias penianas. Mas os parâmetros do exame continuam invariáveis e com acurácia afirmada pela ISSM ( Internacional Society fo Sexual Medicine).Só para citar, o contrário também acontece muito; pacientes que se masturbam como pênis flácido na tentativa desesperada de forçar a ereção. O problema é que ninguém consegue forçar o estímulo.
Outros exames menos usados como o rigiscan ou tumescência peniana noturna, visam medir as ereções noturnas, podendo assim classificar algum grau de patologia orgânica, mas é muito comum que os pacientes que vem se frustrando com seu desempenho a tempos, percam inclusive as ereções noturnas. Reforço: por frustração sim, pois muitos relatam que se masturbam com ereções normais ou tem ereção com parceiras quando não se sentem ameaçados ( sexo iminente).
O exame de potencial evocado gênito-cortical ( semelhante a uma eletroneuromiografia), tem caráter experimental e portanto acurácia inconclusiva. A cavernosografia caiu em desuso ( ainda bem!).
Merece ser citado também o teste de ereção fámaco-induzida, que também não tem boa acurácia pois constrange o paciente a uma injeção no pênis assim como no doppler.
Deixo claro aqui que não estou contestando a validade estatística de tantos estudos, mas sim a falta de tato dos pesquisadores em conciliar os métodos diagnósticos com a clínica, a psicopatologia da disfunção erétil é fundamental na etiologia e na condução dos casos. Faz-se necessário a noção psicossomática da disfunção erétil pelo avaliador, para que esta seja devidamente diagnosticada e tratada. Quando conseguirmos isso, os resultados serão promissores, tenho certeza.
Por,
Dr. João Borzino
Médico sexologista e terapeuta sexual